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Encontro com o SELF

Simbolicamente falando, existe uma necessidade de que o Self seja conhecido pelo ego. O processo de individuação começa, não raro, através de uma lesão à personalidade, o que provoca, logicamente, um sofrimento psíquico. O ego tenta, normalmente, dar atenção aos sintomas surgidos, havendo uma tendência a separá-los e dissociá-los da consciência, ao invés de enfrentá-los e apreender seu sentido. Na jornada de desenvolvimento psicológico, após uma intensa experiência de alienação, o eixo ego-Self passa à consciência, ou seja, em termos de experiência, o ego toma contato com a existência de um centro transpessoal ao qual se subordina, e de que há uma força diretora que ultrapassa seu poder e sua vontade conscientes, muito embora debata-se na tentativa inútil de se livrar do incômodo que lhe aflige.

Para o ego muito inflado, reconhecer a imagem do Si-mesmo e aceitá-lo torna-se difícil ou até impossível momentaneamente. Jung afirma que “aquele que é verdadeira e desesperançosamente pequeno sempre vai reduzir a revelação do maior ao nível de sua própria pequenez e jamais vai entender que o dia do julgamento de sua pequenez chegou. Mas o homem que é internamente grande saberá que o amigo tão esperado de sua alma, o imortal, efetivamente chegou nesse momento, para tornar cativo o cativeiro (…) e para levar sua vida a fluir para uma vida maior”.

O primeiro encontro com o Self lança uma sombra sobre o futuro. Este condutor interno mais parecerá um caçador querendo pegar o ego em sua armadilha do que propriamente guiá-lo. Com a chegada da treva, a sensação de que a felicidade e o sentido da vida nunca mais serão vislumbrados de novo é uma intensa angústia na consciência conturbada. É como se os céus silenciassem e Deus emudecesse.

É preciso voltar-se para as trevas sem preconceitos e com a maior simplicidade, indo pelo caminho do medo, a fim de tentar descobrir qual o sentido e o objetivo desse evento interno e devastador e o que ele nos solicita. Pela peculiaridade e originalidade desse propósito, o caminho para sua percepção e a chave para desvendá-lo encontram-se nos sonhos e nas fantasias, que emergem do inconsciente. As constatações mais chocantes e dolorosas vêm a tona e percebemos nosso desalinhamento perante o enfrentamento dessas imagens, como também o propósito para o qual nos inclina o Self.

Através do desespero e do sofrimento ocorre a rendição a esta força inconsciente que quer ser vista e reconhecida. Para reconhecer o Self como valor supremo, é preciso que haja um desprendimento dos valores menos elevados. O aparecimento do Self constela uma espécie de juízo final e apenas sobreviverá aquilo que for sólido e estiver sedimentado na realidade. Disso resulta um esvaziamento da personalidade consciente, a qual, por conseqüência, mantém seu funcionamento sob limitações e com déficit de energia psíquica e um intenso esgotamento, em função do movimento regressivo da libido que acompanha esse processo.

Tal sofrimento permite a dissolução daqueles elementos psíquicos que obscurecem a manifestação do Self, a fim de que haja a possibilidade de ocorrer o embate entre aquele e o ego, por via de uma experiência direta com a realidade arquetípica. Ainda que externamente tudo pareça tranqüilo, inúmeras vezes o indivíduo traz internamente uma angústia e uma vacuidade, revelando também esse conflito interior. É o início do contato com o centro organizador da psique, para onde a realidade psíquica interior do Ser se orienta.

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